terça-feira, junho 29, 2010

Carta lida no aniversário de 20 anos da ELT

EVOÉ

Há exatos 20 anos, no dia 28 de Junho de 1990, a Escola Livre de Teatro de Santo André nascia em conexão com o mundo, lançada oficialmente na Primeira Mostra Internacional de Teatro de Santo André. Parida num cenário de agitação criativa e efervescência cultural, a ELT caracteriza-se, de acordo com seu plano original, “como um centro facilitador onde as pessoas interessadas na pesquisa de linguagem teatral possam dispor de um espaço onde o ofício seja estudado e aprofundado”. E dentro de uma perspectiva em tudo semelhante ao pensamento do grande educador Paulo Freire, a ELT sempre vislumbrou o processo de aprendizagem como um percurso rumo à autonomia, onde o ensinar não significa a mera transmissão de conhecimento, mas a criação de possibilidades para a produção do saber e sua utilização segundo critérios próprios. E é a esse exercício de liberdade que a ELT tem se dedicado nessas duas décadas de existência.

E sempre útil lembrar que em 1994, apenas quatro anos após sua inauguração, a escola sofreu um duro golpe. Como conseqüência das mudanças municipais decididas nas eleições de 1992, o projeto original foi desfeito. Criou-se em seu lugar uma oficina que durou poucos meses e, ao que parece, não deixou saudades nem qualquer herança significativa, a não ser constrangimento e luto. Mas em 1997 a ELT renasce. Uma Mostra de Teatro de Rua celebra a restituição da escola à cidade. De lá pra cá sua potência criativa só floresceu, irradiando sua prática libertária para além das fronteiras da cidade, fomentando a produção de grupos teatrais que fizeram e fazem história, formando artistas-cidadãos fundamentalmente comprometidos com a ética.

Hoje, a comunidade ELT possui motivos de sobra para festejar a existência desta escola que, em tudo e por tudo, faz a diferença. Estamos e sempre estaremos em alerta na defesa deste projeto que coloca Santo André no mapa das cidades com instituições exemplares na área da formação teatral. É claro que em uma data como a de hoje gostaríamos que a fachada do prédio não estivesse tão descuidada, que a atenção com o material ligado à memória da escola fosse o maior possível, que os figurinos estivessem protegidos do mofo e da umidade , compromissos assumidos, na última sexta-feira, pela Administração. Talvez uma possibilidade para fazer frente a tais dificuldades seja a desburocratização das dinâmicas administrativas internas e a abertura de espaço para a participação da comunidade de Aprendizes, comunidade que há pouco tempo colaborou de forma significativa trazendo material de limpeza, papel higiênico e panos de chão para que a escola pudesse atender as necessidades mínimas de manutenção do espaço. Os vínculos afetivos da comunidade com a ELT são únicos. E quando o afeto serve como ponte entre as partes, tudo pode funcionar melhor.

A comunidade ELT é uma comunidade que nunca perde a fé no ser humano, que sempre acreditou no diálogo e na transformação da realidade. Nossa história comprova isso. Temos à nossa frente um horizonte possível de diálogo produtivo e a certeza do entendimento. A utopia é o nosso alimento, pois sabemos que o homem está em permanente reconstrução. Podemos sonhar e sermos livres de espírito, mas é a luta que nos faz livres na vida. Afinal, como se perguntou o poeta britânico Rudyard Kipling: o que fica de pé se a liberdade for derrubada?

Viva a Escola Livre de Teatro de Santo André!


Comunidade Escola Livre de Teatro de Santo André

28 de junho de 2010

Um comentário:

Daniela Caielli disse...

Vinte anos e muita maturidade pra lidar com as intempéries... A arte feita com sinceridade, vontade, entrega e cidadania. Com a comunidade ELT aprendi e continuo aprendendo muito. EvoÉ, ELT!